O primeiro administrador do projeto e um avião que não queria voar

Para um projeto de tão elevada importância para o Estado do Maranhão, era necessário dispor de um gerente geral à altura. Assim,
o governo escolheu com muito critério para o grande desafio um jovem senhor de 29 anos de idade, Boileau Dantas Vanderley Filho. A partir de então, ele se tornava o representante máximo da COMARCO na área do Projeto. Natural do Estado da Paraíba e recém-formado em Agronomia, o Dr. Boileau (pronuncia-se Bualôr, por se tratar de sobrenome de origem francesa), deu importantes passos para o desenvolvimento do Projeto. Tinha total autonomia para administrar os negócios, propor modificações, ampliações ou reduções, de acordo com a necessidade, e para representar a COMARCO nos assuntos relativos ao Projeto.
Depois de ter recebido a missão de administrar o Projeto, o Dr. Boileau voou para Buriticupu, para visitar, pela primeira vez, o local previsto para a implantação do Projeto. Sabia-se da existência de uma pista de pouso que havia sido construída em 1972, no meio da floresta que circundava Buriticupu, para atender os engenheiros da Construtora Mendes Júnior, que a utilizariam quando viajassem para a região a fim de vistoriar as obras da Rodovia MA-74.
Assim, usando um pequeno avião, desceram naquela pista de pouso o Dr. Boileau, o piloto e Luiz Lílio, jornalista de O Imparcial. Ocorreu, porém, que a pista era um tanto provisória, consistindo apenas de uma grosseira terraplanagem. Mesmo assim, acabava de ser inaugurada pelo trio. Tão logo eles desceram, dirigiram-se ao Rio Buriticupu onde encontraram quatro homens da linha de frente da Companhia Mendes Júnior, que ali entraram por terra, vindo do povoado Km 100, abrindo picada à base de facão e machado.
Era fevereiro de 1973, semana de carnaval. Enquanto muitos brincavam, o Dr. Boileau, que tinha fama de teimoso, realizava o reconhecimento da área do Projeto. Chegando o dia de retornar a São Luís e preparados para viajar, os três tripulantes – o Dr. Boileau, o jornalista e o piloto – sem prever o que iria acontecer, apanharam com muita ansiedade suas bagagens, pois já haviam cumprido rigorosamente a missão de reconhecimento da área e, assim, partiram para o local onde estava o avião. Naquele instante, o piloto tentou pôr para funcionar a aeronave, que trabalhou normalmente, enquanto entravam nela o jornalista e o Dr. Boileau, com mais de um 1,80m de altura.
Na hora de decolar, porém, a máquina voadora não conseguiu sair do chão, pois nem ela nem a pista ofereciam condições para decolagem. Além do mais, havia chovido muito, tornando o solo deslizante. Depois de minutos de tentativas sem sucesso, o Dr. Boileau entra em ação e põe em prática o que seria a última tentativa: como a pista era pequena e o avião também, o Dr. Boileau prendeu o avião com cordas a uma árvore, enquanto este ganhava velocidade. No entanto, um dos tripulantes teve que descer e desatar a aeronave da árvore, e este foi o Dr. Boileau, que por essa razão não pôde viajar, vendo apenas sua ideia funcionar e o avião subir até perder de vista. Sozinho, acenou com as mãos para o alto, despedindo-se dos seus companheiros que partiram e vendo-se obrigado a permanecer por mais dias em Buriticupu. Tal situação, que lhe obrigaria a caçar e pescar para sua sobrevivência, não o contrariou, pois não lhe foi difícil, visto que era filho de um fazendeiro acostumado no mato, com excelente iniciativa e apaixonado pela floresta.
A pista de pouso, que mais tarde foi melhorada, havia sido construída para atender os dois projetos: o de construção da Rodovia MA-74 e o de colonização, que aconteceria a partir de 1973.
A primeira equipe técnica da colonização, sob o comando do Dr. Boileau. Da esquerda para a direita veem-se: Dr. Celso, Dr. Maciel, Dr. Boileau (gerente geral do Projeto, ao centro), as quatro mulheres ao centro (agentes sociais), seguidas da Dra. Maria Conceição, Dr. Fonteles e Dra. Agostinha Correia.
por Isaias Neres Aguiar

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